Pogorzelski & Associados - Advocacia Empresarial

Todos os itens que compõem o conjunto arquitetônico cuidadosamente asseados, arrumados. Pisos, paredes, corredores, salas evidenciam um cuidado especial. Mensagens de boas vindas e de incentivo expostas em cartazes, faixas, letreiros diversos. A cada ano, seja como for e de acordo com as mais variadas conveniências e possibilidades, o ambiente deixado ao final do ano anterior se reforma. O prédio, que até então permanecia silencioso, nostálgico e inanimado por dias que para ele pareciam não acabar, exala no ar a expectativa da chegada dos personagens que o ocupam na maior fração de dias do ano. A exemplo do sentimento de ordem emocional que nos acomete no interior de algumas edificações, no prédio da escola, especialmente nas situações de pouca atividade, há uma sensação semelhante. Sentimos algo diferente ali e naquela ocasião. Um silêncio que a todo tempo parece querer nos dizer alguma coisa. Para os adultos talvez se expresse em um agradável sentimento nostálgico que remete ao seu passado naqueles ou em outros corredores semelhantes. Nessa atmosfera, parecemos até sentir penetrante as partículas de uma fragrância tão agradável como o aroma da dama da noite. Sentimento que meus saberes não permitem conhecer com profundidade a razão, apenas opinar e sugerir que o prédio da escola representa um edifício em que não só a construção e difusão do conhecimento humano encontram seu principal lugar, mas qualifica-se com um templo socialmente sagrado.

Aliançados com um sistema nominado Educação são eles os professores, os mestres. Simbolizam o saber, a abnegação, a doçura e o amor. A segunda figura matriarcal ou patriarcal, algumas vezes fazendo-se substituí-los. Derivação de paradigmas, a referência modelar e instrutiva do bem e do mal. Um sorriso seu ou o seu abraço no retorno às aulas fazem toda a diferença. Personalidade única, cuja simbiose com o educando está para além da práxis educativa e não comporta rompimento.

Durante a maior parte do ano letivo eles, ao alunos, contam os dias para a chegada das férias. Torcem os narizes por mais um dia de aula, por ter de acordar cedo, pelas obrigações vinculadas aos deveres de casa e trabalhos solicitados. As notas então, na condição de peso valorativo dos seus esforços, representadas por números, letras, estrelinhas, lhes sobrecarregam a responsabilidade escolar, muitas vezes se confundindo em suas cabecinhas com o próprio valor que carregam perante os professores e os pais. No entanto, embora haja um sem número de fatores que possam ceifar a motivação do aluno no ambiente escolar, eles amam esse lugar. É ali que recebem os carinhos e afetos das primeiras professoras. Sua socialização recebe um impulso sem precedentes. Cultivam amizades, aprendem novas brincadeiras, cantigas e remodelam continuamente os saberes, o que contribui para a profusão de sua autoestima e autonomia, elementos intrínsecos da psique humana que lhes fará toda a diferença comportamental na fase adulta. São eles, os alunos, a quem a escola e seu prédio esperam retornos e chegadas a cada início de ano letivo. As mensagens são para eles. A remodelação de programas de ensino e das expectativas também. O barulho e tremer dos pisos e das paredes da estrutura anunciam não uma baderna, mas uma dinâmica pertencente. E o prédio, numa perspectiva romântica, se regozija, porquanto a marcha dessa legião estudantil ao longo da história a ele se incorporou.

Todo esse contexto inserido em um país democrático. Contexto livre de orientações religiosas específicas e ideologias impeditivas ao seu pleno desenvolvimento. Em detrimento de toda e qualquer circunstância desfavorável que permeie esse sistema, enquanto pais, professores, educadores e alunos, importa-nos, também, apreciar afetivamente a verve poética desse processo. A propósito, Poética foi o título de um dos poemas do pernambucano Manoel Bandeira, que em tais escritos critica as construções líricas comedidas, parcimoniosas, por se refletirem em um lirismo que, em suas palavras, não é libertação.

Júlio Pogorzelski

Advogado, professor e educador.

Matéria publicada no Jornal de Gramado, edição de 28/02/2014.

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