A atuação da seleção brasileira ante a fúria espanhola na partida final da Copa das Confederações, que os especialistas da área alcunharam de chocolate, surpreendeu. Na mesma medida, ou em proporções minimamente dessemelhantes, temos nos surpreendido com o agigantamento das movimentações sociais que altissonantes bradam por um país melhor.
No solo da nossa história, há muito faltavam motivos para nos orgulharmos desse país e especialmente do nosso povo que continuamente tinha sua diminuta capacidade de reação testada. Agora, ao contrário, sobejam motivos ante a essa nova realidade histórica, cujos recados são multifacetados. Ela vem impondo ao país um ritmo diferenciado. São os cidadãos dizendo o que querem e os governantes efusivamente atendendo.
A métrica das massas impôs a políticos brejeiros, embusteiros e acostumados a palavras e métodos prosaicos, destituídos de nobreza e de belos ideais, uma incrível motivação para forjarem outra aparência ante um povo cronicamente insatisfeito. Contrariando a tendência apresentada antes das manifestações, a PEC 37 foi derrubada, o preço das passagens foi reduzido, o passe livre foi instituído e a extinção do percentual do empregador na multa do FGTS já recebeu aprovação da Câmara Federal. A reforma política é o tema da vez. Ocorrências que potencializam os efeitos e o sentimento de que um quadro muito melhor está a surgir no horizonte.
Dissipando sua letargia e servidão, jovens que há muito têm visto a sua esperança por um futuro digno ser mutilada por um governo injusto e corrupto, assim como suas instituições, arregaçaram as mangas para trabalhar em favor de uma nação mais decente. Um reencontro da juventude com o papel que tem na sociedade, que é o de apresentar uma face contestadora, de inconformidade, de exigir que as coisas mudem, desencadeando um sentimento geral da mesma espécie.
Disseram aos partidos políticos e suas bandeiras que eles não teriam vez nas manifestações, fulminando até mesmo a estratégia de bastidores de Lula e seus correligionários. Disseram que não havia espaço para amalgamar ideologias partidárias aos movimentos do próprio povo, soberano.
Muito embora falemos da evidência do recado moralista das ruas para os corruptos conhecidos, é de se imaginar a profundidade e o impacto dos valores defendidos pelos manifestantes ante aquela outra corja da qual que não se tem tanta notícia, dentre tantos, composta por funcionários públicos que dão uma saidinha para ir ao banco ou ao famoso médico no horário de trabalho e também por aqueles que se seduzem pela mais variadas trocas de favores em detrimento da justiça e da dignidade social que deveriam defender.
O Brasil campeão, desejado por todos e independentemente dos resultados práticos que pretenda alcançar, corresponde a uma nação que se disponha a enfrentar com altivez qualquer fúria, independentemente dos labirintos escarpados. O Brasil de hoje é um país de se orgulhar pelos feitos do seu povo. Já o futebol e suas conquistas diante dessa realidade se apequenou.
